BEM VINDO AO SER-PARA-AÇÃO

GRUPO PARA MULHERES

O Ser-Para-Ação foi criado com o intuito de ajudar mulheres que estão, neste momento, vivendo término de relacionamento. Seja casamento, noivado ou namoro, as mulheres sofrem com o fim da relação. Neste grupo iremos abordar questões que causam sofrimento, de forma a elaborar esta dor. Temos também como objetivo trabalhar a autoestima e a autoconfiança para que possam pensar numa relação futura.


domingo, 7 de julho de 2013

AS VÍTIMAS DA PERVESIDADE

Nos dias de hoje em que somos acossados pela violência explícita vinda de várias frentes, também
somos muitas vezes testemunhas ou mesmo vítimas de um tipo de violência mais difícil de
visualizar e nem por isso menos violenta. Essa violência advém de relacionamentos com pessoas
perversas, que elegem uma vítima e passam a se dedicar à tentativa de destruí-la. Já que não é
possível matá-la fisicamente, tentam assassiná-la moral, emocional e socialmente. Esse tipo de
ação vem sendo estudada por especialistas nos últimos anos e recebeu o nome de assédio moral,
uma forma de abuso emocional.
Mas afinal do que estamos falando? O que é um indivíduo perverso e, mais, o que estamos
chamando de uma relação perversa? Os estudiosos do assunto definiram indivíduos perversos como
sendo aqueles que, sob a influência de seu grandioso “eu”, tornam-se capazes de tentar criar
sempre uma relação peculiar com uma segunda pessoa. Nesse tipo de relação característica, o
sujeito perverso ataca particularmente a integridade psíquica do outro, visando desarmá-lo e
deixá-lo à sua mercê. Assim são atacados igualmente o amor-próprio do outro, sua confiança em
si, sua autoestima e a crença em si próprio.
Todas as pessoas estão sujeitas a terem momentos de perversidade moral do tipo descrito em suas
relações com os outros. A diferença é que os verdadeiros perversos só sabem se relacionar desta
maneira em todas as esferas de sua vida. Movidos por um egocentrismo extremado e uma total
falta de empatia com os outros esses indivíduos ainda sentem uma enorme inveja dos que parecem
possuir o que eles não têm ou daqueles que simplesmente têm prazer com a própria vida.
Os perfis das vítimas também têm sido estudados dentro da vitimologia. Esta disciplina é recente e
estuda o processo de vitimização, suas conseqüências para as vítimas e os direitos que elas possam
vir a reivindicar. Durante muito tempo dizia-se que a vítima da pessoa perversa seria masoquista.
Hoje, entretanto sabe-se que elas são pessoas bem dotadas, cheias de vitalidade e colaboradoras.
São seduzidas para se enredar numa relação destrutiva justamente a partir de seu feitio doador. É
deste feitio que o agressor tira partido ao se apresentar como alguém a quem a vida lesou e que
necessita muito de proteção e carinho. A maior vulnerabilidade das vítimas é que elas não se veem
como são. Têm dúvidas quanto a sua própria capacidade. Isso faz com que criem para si o desafio
de mudar o outro, provando assim sua força e seu valor.
Mas será mesmo possível que o agressor consiga tudo isso sem encontrar obstáculos? Certamente,
pois existem inúmeras formas básicas e simples de desestabilizar o outro e o perverso as conhece
muito bem. Ele sabe, por exemplo, que, para tal, basta rir das convicções e dos gostos do outro,
deixar de lhe dirigir a palavra, ridicularizá-lo publicamente, denegri-lo diante dos demais, colocar
em dúvida sua capacidade de avaliação e decisão. E assim por diante.
Assim, um processo de desqualificação de alguém geralmente leva anos, especialmente em
relações familiares, em que os cônjuges e os filhos são as vítimas mais comuns. No início não há
palavras explícitas, apenas olhares de desprezo, alusões malévolas e críticas dissimuladas. Um dia
vem o momento crucial, quando surgem as palavras “você é mesmo uma pessoa muito
complicada”, diz, por exemplo, um pai a uma filha. Esta integra este lado e vai-se anulando
realmente. Ou seja, alguém torna nula sua própria identidade porque o outro decretou o que ela
era.
Durante muito tempo a vítima, confusa, não compreende o que se passa com ela. Mas quando
enfim se dá conta e resolve reagir, rompendo com seu agressor, desperta a ira do perverso. É aí
que a violência se torna intensa, explícita e implacável. Alguns perversos passam a dedicar sua
vida a tentativas de destruir o outro. Estas pessoas podem até parecer se ocupar de outros
projetos, mas o único que realmente lhes importa é o de tentar destruir quem ousou lhe
abandonar.
Mas, como é levada a cabo tarefa tão ambiciosa? Para tal é preciso que sejam criadas muitas
mentiras acerca da idoneidade da vítima, que passa a ser culpada de tudo o que aconteceu (de
ruim) ou deixou de acontecer (de bom) ao agressor. É bom lembrar que o indivíduo perverso não
experimenta um sentimento de culpa por agir assim. Ele é incapaz de sentir empatia ou
compaixão por outro ser humano.
A pior de todas essas situações é a que envolve as relações de pais perversos e seus filhos como
vítimas. Aos olhos do agressor os filhos deixam de ser seus filhos e passam a ser filhos apenas do
seu ex-cônjuge, merecedores, portanto, de todo o seu ódio. Nesses casos terapias feitas com as
vítimas podem ser eficazes para deter o processo de destruição da identidade. Mas é preciso que o
terapeuta venha a agir diferentemente da maioria da sociedade; ou seja, por comodismo ou
respaldos numa alegada postura neutra os terapeutas podem até se omitir. Quando deixam de
destacar e nomear para as vítimas esse tipo de abuso emocional, dificultam sua liberação do
agressor.
Como em todos os demais casos de abuso sabemos hoje que a vítima precisa de alguém que
acredite nela para ter forças para reagir ao massacre. Muitas vezes basta que só uma pessoa
acredite e apoie a vítima para que ela comece a se reorganizar emocionalmente. Esperemos que
se for um terapeuta o escolhido para desempenhar esse papel, ele seja capaz de abraçá-lo sem
entraves, até por sua condição de ser humano anterior à de terapeuta.
No meio cultural individualista em que vivemos esse tipo de ataque está se tornando mais comum.
Precisamos todos ter cuidado, pois a pretexto de sermos tolerantes, podemos estar sendo
complacentes com uma situação desse tipo próxima a nós, facilitando assim a atuação predadora
do perverso.


Simone Sotto Mayor

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